sábado, janeiro 01, 2011

Janeiro 2011

Bem-vindo 2011.



O ano em que Portugal terá de se virar decididamente para a Lusofonia.



   Ainda as badaladas do novo ano ecoam nas memórias e já estamos a iniciar um novo período de trabalho. As perspectivas e as expectativas para o novo ano estão marcadas pelo espectro da recessão, do aumento do desemprego em mais de 150 mil postos de trabalho actuais e pelo desespero colectivo perante uma crise social que promete instalar-se. Perante este cenário, observamos uma classe política praticamente inimputável, constituída por demasiadas individualidades comprovadamente irresponsáveis, preocupada apenas com a eleição presidencial e com as consequências para o xadrez político e partidário que daí advirão. Incrivelmente, assiste-se ao espectáculo despudorado de um grupo de políticos que se preparam para aproveitar o resultado mais do que provável das presidenciais para mergulharem o país numa crise política, da qual esperam obter não só o regresso ao poder mas também os benefícios pessoais e mordomias a que tiveram de se desabituar nos últimos tempos. Afinal parece que temos novos comensais esfomeados e cada vez com menos paciência para esperarem pela sua vez. Com o real estado do país parece que não há muito quem se preocupe…
Esperemos que esta opção pela baixa política não acabe por colocar em causa o próprio regime democrático que custou tanto a conquistar e que tão mal tratado tem sido.
No campo da economia real, o novo ano trará um inevitável abrandamento dinâmico no mercado interno. Isto é inegável. No entanto, será que face a esta inevitabilidade causada pelas políticas públicas, existe espaço para mais do que crise, para pensarmos em oportunidades? Claro que sim!
O espaço da Lusofonia, onde nós temos a enorme vantagem competitiva da língua comum, promete crescer fortemente durante este ano. O Brasil é hoje uma certeza, sendo uma potência emergente altamente competitiva e um mercado em forte crescimento. O aumento da procura mundial, impulsionando a subida dos preços do petróleo farão Angola reviver os seus melhores anos. Vamos voltar a ouvir falar e muito deste mercado. Moçambique é hoje uma certeza e um porto seguro para investimentos com maturidade a longo prazo e que permitirá estabelecer bases de crescimento e desenvolvimento para muitas e muitas empresas Portuguesas. Cabo Verde representa uma porta de entrada para um mercado de mais de 200 milhões de consumidores, com um regime fiscal muito favorável e crescimento económico constante acima de 6 por cento anuais. Macau é um pilar do comércio internacional, abrindo portas para a China e com a vantagem de ser a porta para a Lusofonia. Timor e São Tomé e Príncipe têm petróleo e mais dia, menos dia começarão a enriquecer. Apenas a Guiné constitui uma aposta incerta, mas trata-se de um gigante adormecido que se conseguir alguma estabilidade política, dará elevadíssimo retorno aos investidores que apostarem no país.
Neste cenário global, o pior local para viver o próximo ano será mesmo em Portugal. Logicamente, depende das empresas Portuguesas entenderem a posição estratégica em que se encontram e explorarem as oportunidades imensas que estão mesmo à nossa frente. Os descobrimentos Portugueses e 500 anos de história colocam-nos, apesar de tudo, em posição privilegiada.
Saibamos acolher 2011 como o ano das oportunidades e superaremos a crise!

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Dezembro de 2010

Resistir ao FMI?

O mês de Natal começa em Portugal com o espectro do FMI e da recessão que nos espera em 2011. Os meus cálculos levam-me a afirmar que, se o próximo ano nos trouxer um crescimento negativo do PIB em 1%, então o desemprego ultrapassará os 14% e teremos mais de 150 mil novos desempregados. Isto é o cenário que nos espera se nos resignarmos a nada fazer, aceitando a recessão como um facto consumado. Evidentemente, além do problema social que se agravará, teremos um acréscimo significativo de incumprimentos nos créditos e um aperto da restrição orçamental de muitos cidadãos Portugueses.


Por outro lado, o Governo Português continua a resistir aos empurrões para pedir auxílio ao FMI. Esta resistência custa-nos quase dois por cento de diferencial nos juros da dívida pública. Valerá a pena resistir?

Do meu ponto de vista, vale a pena pagar esse adicional para garantir a capacidade de continuarmos a decidir a política económica nacional. Não apenas por questões de soberania! No entanto, esse esforço adicional só valerá a pena se for utilizado para podermos aplicar políticas diferentes daquelas que o FMI nos forçaria a aplicar. Para fazer o mesmo que o FMI nos obrigaria a fazer, não vale a pena resistir pois estaremos a pagar dois por cento (não esquecer que se tratam de milhões, muitos milhões de Euros) a mais sem tirarmos benefício nenhum. Na minha opinião, justifica-se resistir ao FMI para aplicar uma política social especialmente activa, que garanta a coesão social nacional, apoiando os que mais necessitam que terão de ser discriminados positivamente, nesta fase. Espero que o Governo de Portugal mostre firme vontade de seguir este caminho. Senão, podem chamar o FMI e sempre nos poupam umas massas valentes.

Durante 2011, outra questão fundamental se apresentará às economias Europeias: O futuro do Euro.

A actual arquitectura do Euro parece ser insustentável e a heterogeneidade das economias constituintes da União Económica e Monetária é tal que estamos perante a possibilidade real da Alemanha ter de sair do Euro ou dos outros quase todos terem de sair da moeda única. O aviso que a Alemanha estava a preparar o Marco é um sinal que este pode ser o futuro.

No entanto, penso que a saída da Alemanha do Euro será contrária aos próprios interesses da Alemanha e assim, como sempre ouvimos dizer que “quem está mal é que se muda”, terão de ser os países mais fracos a renunciarem ao Euro, sob pena de se tornar irrespirável o ambiente económico que um Euro disparatadamente valorizado vai induzir nas outras economias. A surpresa, se há alguma surpresa nisto, é que depois da Grécia, da Irlanda, de Portugal (claro), da Espanha (pois…), virão alguns países mais próximos da Alemanha. Veremos a Itália, mas a Leste também há quem esteja a ficar com a roupa curta e acima de tudo, a França dá sinais de poder seguir o mesmo caminho. Não será preciso tanto, para a Zona Euro ter de ser reformulada. Não será viável aguentar a moeda se metade dos países da Zona Euro estiver nas mãos do FMI. Não restará mais ninguém para salvar os outros, excepto a Alemanha. Não é possível! O mapa da Zona Euro terá de ser redesenhado. A menos que a Alemanha mude de políticas e de intenções. Já sabemos que o BCE fará o que a Alemanha mandar, portanto…

segunda-feira, novembro 01, 2010

Novembro 2010

Espanha sob Ataque

O novo mês entra com um acordo para a aprovação do Orçamento de Estado para 2011 cozinhado entre os dois maiores partidos, o que evita comportamentos psicologicamente adversos nos mercados e beneficia indelevelmente o candidato que pretende renovar o seu mandato presidencial.


A conjuntura económica continua a apresentar-se altamente desfavorável para os países do Sul da Europa, especialmente os PIIGS, dos quais apenas a Itália parece estar suficientemente equilibrada para não ir ao tapete com a absurda cotação do Euro. O Banco Central Europeu (BCE) continua a intervir activamente para manter a tendência altista da cotação da nossa moeda, sem a menor relação com os fundamentais da economia, optando por favorecer a política da Alemanha, que está a provocar um choque assimétrico, que pouco os atingirá, mas acabará de arruinar as finanças e as economias da Grécia, Irlanda e Portugal. Tudo isto para subjugar a Espanha, que durante anos cresceu em poder e influência na Europa Comunitária e que vai ser obrigada a baixar o tom de voz. Lamentavelmente, esta refrega política emanada de Berlim irá arrasar todo o Sul da Europa na sua ânsia para poder atingir Espanha. É verdade que, os Espanhóis assumiram muitas posições de destaque na União Europeia, superando a sua participação real para a riqueza dos 27, mas daí a ser justificável o que está a acontecer…

Reequilibrar o poder político dentro da União Europeia (ou acabar com o equilíbrio mostrando que manda quem pode) através da opção consciente por arrasar a economia de Espanha e assumindo como dano colateral o desespero financeiro de pelo menos mais três países membros é, no mínimo, criminoso!

Já não há mais desculpa para a incompetência do BCE. Tornou-se evidente que, se trata apenas de excesso de zelo para cumprir as ordens de quem manda. Assim, compromete-se o sonho de uma Europa Unida capaz de ser um actor importante à escala mundial e garante do bem-estar das suas populações. O BCE é o infeliz pau mandado que enterra definitivamente qualquer hipótese de construção de uma união política na Europa. Depois disto, os países do Sul da Europa ficarão tão escaldados com este abraço de urso germânico que, talvez não fiquemos apenas com uma Europa a duas velocidades, talvez a velha Europa se volte a dividir em duas.

domingo, outubro 10, 2010

Outubro 2010

Inevitavelmente FMI


Durante os anos oitenta do século passado, já lá vão mais de vinte cinco anos, recordo bem o clima social que se vivia em Portugal, durante a última vez em que Portugal esteve à beira da bancarrota. Foi um tempo extremamente duro e difícil para demasiadas famílias portuguesas. A península de Setúbal, tal como o Vale do Ave e outras regiões, conheceu fome e desespero e o bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, assumiu protagonismo público em defesa de políticas sociais activas. Passaram-se anos de aperto colectivo até as contas públicas e externas se reequilibrarem e no final de 1985 já se anunciavam tempos de fartura com a próxima entrada para a Comunidade Económica Europeia. O tempo continuou a correr, vieram os fundos comunitários, colectivamente desperdiçados, a Autoeuropa ajudou a transformar a península de Setúbal num pólo de desenvolvimento tecnológico e produtivo, o país cresceu (e as importações também…) e o consumo interno habituou-se a níveis de vida mais exigentes. Atravessámos anos de prosperidade e houve mesmo momentos, como em 1998 com a EXPO a catapultar o orgulho num país moderno, em que acreditámos que Portugal iria ser um país rico.

O novo milénio trouxe-nos o final do Acordo Multifibras, o ajustamento estrutural da economia nacional e a necessidade de adequar a competitividade das empresas à competição cada vez mais feroz dos mercados globalizados. Com trabalhadores não qualificados que passaram a ser muito caros quando comparados com os seus congéneres da China, Índia, Turquia, Marrocos e muitos outros países em desenvolvimento. A transição para uma economia baseada em valor acrescentado afigurava-se longa e penosa. Por outro lado, o Estado ia alargando o seu peso no PIB, comprometendo a competitividade do sector privado. Os funcionários públicos a quem foram oferecidas regalias (hoje os chamados “Direitos Adquiridos”, tantas vezes relembrados em manifestações e greves), acreditaram naturalmente que, aquilo que os governantes da época lhes davam em aumentos e promoções automatizadas era resultado do avanço do país e fruto do seu próprio esforço. Evidentemente, nada disso era sustentado na economia real e os anos comprovaram-no. O peso do Estado na economia Portuguesa continuou a aumentar e a sufocar cada vez mais o sector privado. Enquanto o sector privado tinha de se adaptar a todos os choques com a realidade, o sector estatal conseguia resistir e perdia apenas algumas das suas regalias. A diferença de remunerações entre os trabalhadores não qualificados do sector público e do sector privado atingiu um tal ponto de discriminação social, que seria impossível a qualquer governo evitar o tipo de medidas anunciadas há dias de cortes salariais no aparelho do Estado. Todo o país tem de fazer sacrifícios, não podendo existir um grupo de cidadãos que está praticamente a salvo deste esforço. A luta dos professores contra a anterior Ministra da Educação e a sua vitória de Pirro foram um dos últimos estertores do poderio sindical ligado a partidos (de Esquerda?) que afirmam defender os mais fracos contra os poderosos, mas que acabam por ajudar a eternizar os jovens desempregados e com mau emprego, os trabalhadores precários e a exclusão social de cada vez mais “pobres com emprego”. Os sindicatos tornaram-se defensores apenas dos seus associados e das classes que ainda têm algum “direito adquirido” a defender. Curiosamente, alguns políticos de Direita, ansiosos por mostrarem serviço, correram a cavalgar a onda da insatisfação. A ineficiência económica desta situação e a imparável marcha da economia acabam por se conjugar para nos fazer a todos chocar contra a realidade e acordar abruptamente da ilusão em que Portugal viveu e alguns portugueses ainda vivem.

Não tenho dúvidas que a greve geral anunciada e que juntará as duas grandes centrais sindicais será um sucesso de participação.

A revolta e a crispação social irão aumentar nos próximos tempos e acredito que, os actuais governantes não quererão o exclusivo do odioso necessário para endireitar o país (até porque governantes como Mário Soares e Ernâni Lopes dispostos a arcar com as decisões difíceis não aparecem sempre). Acredito também que, os políticos portugueses actuais, em especial os ligados aos maiores partidos e com ambições de governação, não se irão entender para tomar as medidas duríssimas que a conjuntura impõe. Afinal de contas, é mais fácil deixar que venham técnicos do FMI tomar conta da situação do que acarretar com responsabilidades. A negociação do próximo Orçamento de Estado já deixa antever isso mesmo. Lembro-me de Mota Pinto e não estou a ver Passos Coelho seguir-lhe o exemplo…

Por tudo o que ficou atrás, acredito que o FMI inevitavelmente voltará a Portugal. Para tomar medidas que, nós próprios não temos coragem de tomar, com a conhecida insensibilidade que o FMI costuma ter às necessidades sociais dos mais desfavorecidos. Esta é a perda maior que a entrada do FMI acarreta do ponto de vista da aplicação das políticas.

Mas há outra perda que convém realçar e que é a perda de postura de um país que não consegue ser verdadeiramente soberano e que como tal tem de ser “invadido” por técnicos estrangeiros que venham governar-nos. No mínimo é uma desilusão.

Confesso que, depois de tantos anos de União Europeia, nunca pensei voltar a ver o FMI no nosso país, mas conseguimos ser tão mal governados que chegámos a isto. No entanto, não quero deixar ficar a ideia que, possa estar a atirar as culpas para cima do actual governo. Bem pelo contrário, este governo, tal como todos os governos deste início do século XXI chefiados por Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, herdaram uma situação inquinada e um país a afundar-se, deslizando irreversivelmente num plano negativamente inclinado.

Então impõe-se perguntar quem fez todo este mal a Portugal?

Entendo que, foram os governos que tiveram ventos favoráveis, com boas condições económicas, petróleo geralmente barato, crescimento económico mundial e em especial dos nossos principais parceiros comerciais e fundos comunitários de muitos milhões à disposição e que apenas conseguiram criar um “monstro”, que são os verdadeiros culpados. Os quinze anos entre 1987 e 2002 criaram as condições económicas ideais para a falência do país. Relembro os nomes dos primeiros-ministros desses anos extraordinários: Professor Cavaco Silva e Eng. António Guterres. Para memória futura…

domingo, setembro 05, 2010

Setembro 2010

Regresso ao Trabalho



   O mês de Setembro traz-nos o final das férias, o regresso às actividades laborais normais e o desenvolvimento dos projectos em execução. Infelizmente, ao nível macroeconómico o final do Agosto não significou o final da “Silly Season”. As políticas monetárias e orçamentais do espaço económico Europeu continuam marcadas pela fase do disparate. Com o Euro artificialmente valorizado e sem base de sustentação nos fundamentais da economia, talvez escapemos de uma crise cambial, mas o empobrecimento colectivo está no nosso caminho de cidadãos da Eurolândia. Enquanto nos Estados Unidos da América, o Presidente Obama desenvolve políticas de reforço do investimento público e de apoio (sério e a sério) às PME, neste lado do Atlântico finge-se que o pior já passou e que já é tempo de pôr travão a qualquer espécie de sobreaquecimento que só deve assolar os pobres neurónios dos ilustres colegas do BCE e alguns governantes Alemães. Nos Estados Unidos perante políticas muito mais efectivas, Krugman afirma que não é suficiente, por aqui assobia-se para o ar…
Tudo isto tem um preço, bem alto aliás, que é a instabilidade permanente que os mercados não vão deixar de sentir nos próximos tempos, que se reflecte na diminuição dos incentivos ao investimento privado e nos solavancos da confiança dos consumidores. Pura e simplesmente, assim vai demorar muito mais a sairmos da situação actual. Mas convém esclarecer para que ninguém pense que isto é culpa dos governantes Portugueses. A Política Monetária e Cambial Portuguesa estão entregues a Frankfurt e a Política Orçamental está altamente condicionada pelo nosso défice e pela política pro-cíclica que Berlim está a impor a toda a Europa. Como ainda por cima, existem deste lado do Atlântico muitas inteligências que querem formatar os mercados financeiros, temos o Euro muito acima do que vale, prejudicando exportações, destruindo empresas e criando desemprego Europeu. Claro que Americanos, Japoneses e Chineses não se importam nada que nós compremos uma fatia cada vez maior da crise global e os aliviemos desse fardo…
Votos de bom regresso ao trabalho com um mês altamente produtivo.

domingo, agosto 22, 2010

Agosto 2010

Tempo de Férias



Agosto traz-nos férias e um interregno na crise económica e financeira global. Depois dos testes de stress aos bancos terem dado resultados entusiasmantes, pelo menos para quem se quis entusiasmar, as economias ocidentais vão prosseguindo o seu caminho periclitante e instável. Claro que preocupante seria que um dos resistentes aos testes de stress não resistisse a um choque real, mas parece que já percebemos que não serão os bancos quem terá de resistir, mas sim as contas públicas nacionais como no caso do Anglo Irish Bank e o défice Irlandês…


Os mercados continuam instáveis e o que ainda é pior, apresentam a calma de quem está sentado em cima de um vulcão, que já deu sinais de entrar em erupção, mas está a ser acalmado, por diligentes entidades públicas, a baldes de água. O tempo é o melhor mestre e mostrará para onde caminhamos.

Votos de boas férias.

sábado, julho 03, 2010

Julho 2010

O Verão que ainda está para acontecer




O excesso de trabalho e a necessidade imperiosa de cumprir com todas as tarefas com as quais estive comprometido fizeram com que durante os meses de Maio e Junho tenha sido totalmente impossível apresentar escolhas de livros do mês, quer actuais quer clássicos, bem como a escrita do editorial e as devidas actualizações e reflexões sobre a vida económica.

Aos meus leitores habituais, as inevitáveis e sinceras desculpas. Passado esse período mais intenso e sobrecarregado, ainda que longe de qualquer ideia de férias, voltamos ao normal funcionamento do blogue e à intensa reflexão sobre o mundo que nos rodeia e às consequências económicas das opções humanas.

Nos últimos meses temos vivido constantemente sob o espectro da crise e os seus mais variados efeitos, no entanto de há algum tempo para cá temos verificado uma espécie de anestesia colectiva em relação a este assunto, como que acreditando que o pior já passou e que os próximos anos serão de retoma.

Ora, o que acontece é que chegámos ao fim do princípio, mas estamos ainda muito longe do princípio do fim desta crise. As actuações concertadas dos Bancos Centrais e as suas ingerências nos mercados financeiros e em especial no mercado cambial têm amenizado os efeitos de curto prazo da crise, no entanto será inevitável que estas intervenções terminem e aí, lamento informar, o choque será maior que aquele que teríamos se os Estados já se tivessem retirado. Pior, corremos o risco do efeito anestésico destas medidas passar e perante a queda das economias já não termos os remédios necessários à nossa disposição, ou então esses remédios já não fazem efeito. Lembram-se do Japão na década de 90?

Os meses que se seguem constituem uma verdadeira caixinha de surpresas porque é evidente que os problemas dos países europeus não estão resolvidos, que a dívida Grega está por um fio e que muito provavelmente vamos voltar a ouvir falar em risco de incumprimento, com a agravante que da próxima vez o risco será incomensuravelmente maior do que o foi no início da crise e a Europa voltará a abrandar com uma moeda sobrevalorizada seguramente em mais de quinze por cento face aos valores fundamentais das economias europeias e norte americana (irresponsabilidade cambial não ajuda em nada as exportações).

A única vantagem de Portugal é ter a Grécia como exemplo. Como os Gregos vão chegar com o nariz à parede antes de nós, quando chegar a nossa vez já sabemos como é que os nossos parceiros Europeus, em particular os Alemães, se vão comportar.

Aliás, o futuro da Europa é o que está aqui em causa. A Grécia é apenas o rastilho que pegará fogo à União Europeia. Infelizmente, a sensação que fica é a de os líderes Europeus estarem completamente adormecidos e os únicos que estão firmes, os Alemães, estão a fazer tudo o que podem para deixarem os Gregos pagarem sozinhos pelos seus erros. Talvez em Berlim alguém pense que, o triste fim dos chamados PIIGS (exceptuando a Itália que parece ter condições para escapar e eventualmente a Irlanda que está a trabalhar seriamente para se reequilibrar) possa servir para deixar a Espanha de joelhos. Os Espanhóis ganharam imenso peso e talvez Berlim sinta a oportunidade de colocar Madrid a um canto. Afinal Grécia e Portugal parecem ser parceiros descartáveis e a Europa passaria a ter outra ordem mais favorável a Berlim. Mas o problema deles é que o caso não vai acabar assim, a Hungria, e pelo menos mais dois países do leste da Europa, estão praticamente falidos e um cenário de incumprimento Grego transmitir-se-á rapidamente até às fronteiras germânicas. Nesse dia, o problema terá saído totalmente fora de controlo e a crise alastrará a toda a Europa com ainda muito mais força que no início do problema.

Todos já sabemos como isto acaba. Não é preciso ter vivido a Segunda Guerra Mundial (nem a Primeira) para saber que a Extrema-Direita e a Extrema-Esquerda vão esfregar as mãos de contentes, os moderados serão calados e os anos 30 do século passado podem repetir-se. Quem não aprende com a História…

José Paulo Oliveira

quinta-feira, abril 01, 2010

Abril 2010

Um espaço de liberdade e livres pensadores






   O mês de Abril começa com novo foco de instabilidade na Guiné-Bissau. Infelizmente, estas são notícias a que nos vamos habituando e que já nem sequer nos surpreendem. Perde-se o desenvolvimento do país, que podia ser um dos mais ricos de África pelo seu imenso potencial desperdiçado, empurra-se mais quadros para fora do país e desencoraja-se tantos Guineenses desejosos de voltar a casa e de contribuírem para o crescimento da sua terra. Resta-nos a esperança, que a situação se resolva definitivamente em breve permitindo o início do processo de desenvolvimento que tantas vezes se anuncia.

A retoma económica mundial está a dar sinais de força e tudo indica que 2010 seja já um ano de crescimento global. Global sim, mas não vale a pena iludirmo-nos, Portugal ainda tem muito que aguentar. Boas notícias para Moçambique, Brasil e especialmente Angola.

Por aqui, fica a proposta de criação de uma sociedade de pensadores, tipo “Churchill Society”. Tudo indica que temos massa cinzenta para dar esse passo. Vontade existe, que o projecto avance!

Nunca esquecendo os princípios que norteiam este blogue e todo este grupo de pessoas que o constrói diariamente e o número cada vez mais alargado de leitores fiéis que quase todos os dias passam pelo blogue, senão ainda para comentar, pelo menos para ler e pensar.

Afinal de contas, tal como referi ao Dr. Rui Seybert, este blogue “Trata-se de um espaço de liberdade. Acredito na bondade da discussão franca e aberta de espíritos livres.”

Que assim seja! E que nunca deixe de ser…

Votos de Boa Páscoa.

Março 2010

O caminho para a excelência da investigação em Economia na Universidade Lusófona



O mês de Março de 2010 reserva-nos vários momentos que prometem ser memoráveis para a Unidade de Investigação em Economia da Universidade Lusófona.


No final do mês estará à venda, nas principais livrarias do país, um livro sobre a investigação em economia realizada na Lusófona e que conta com cerca de dezena e meia de contributos de investigadores, nos quais estou incluído, com ligação às três linhas de investigação em economia que constituem a Unidade. Eu tive a oportunidade de colaborar com o Professor Sousa Ferreira na preparação deste livro, cuja coordenação coube ao CEDEP – Centro de Investigação em Economia Internacional, tendo tido também a honra e o privilégio de escrever o prefácio.

No entanto, o mês começa com outro momento de enorme relevância, a realização das primeiras Jornadas de Economia, Gestão e Ciência Política organizadas pelo OLAE – Observatório Lusófona de Actividades Económicas, que decorrem nos dias 3, 4 e 5 de Março de 2010 e contam com a presença de muitos especialistas nestas áreas e com a contribuição alargada de estudantes, que realizaram trabalhos de investigação seleccionados para o efeito. Esta será mais uma prova do enorme dinamismo do OLAE. Fundei o Observatório. Tenho a consciência de ter apostado forte neste projecto e de, em vários momentos, ter arriscado toda a minha credibilidade e prestígio, junto dos meus pares e não só, em benefício deste projecto. Tudo o que o OLAE alcançou em tão curto espaço de tempo premeia o esforço e dedicação dos seus membros, mas também acrescenta responsabilidade pelas expectativas geradas. No entanto, nada teria sido possível se não tivéssemos encontrado as pessoas certas ao longo deste caminho. Recordo o entusiasmo da Doutora Ana Brasão, Directora da Faculdade de Economia e Gestão, perante o projecto que lhe apresentei, bem como todo o apoio que sempre nos dispensou. A determinação e confiança que o Dr. Rui Manuel Silva colocou neste projecto, desde a primeira hora, sem nunca vacilar perante as dificuldades. Nós percorremos juntos este caminho. Sem o seu trabalho o Observatório não teria chegado tão longe. Os estudantes que aderiram a esta ideia e deram o seu melhor contributo. Cresceram na sua formação como futuros economistas; o Observatório cresceu com eles e ajudou a Faculdade a cumprir o seu papel. Concebi, planeei e organizei o modelo do Índice de Competitividade Cambial Real da Economia Portuguesa (ICCREP), mas sem a continuidade do trabalho efectuado com excepcional qualidade pelo João Soares nada teria perdurado. O compromisso e empenho do Professor Luís Costa que aceitou inicialmente a difícil missão de acompanhar o Observatório enquanto representante da Faculdade, que sempre sentiu o Observatório e partilhou connosco sucessos e fracassos, vestindo a camisola do OLAE e ainda aceitou, mais recentemente, a árdua tarefa de ser o seu Coordenador Geral e assumir os riscos que o futuro reserva. Quero partilhar a minha confiança no trabalho do Observatório, pois conjuga a Força dos Aprendizes com a Sabedoria dos Mestres.

Nos próximos meses novos projectos serão desenvolvidos. A existência de uma revista científica em Economia, editada pela Unidade de Investigação em Economia e sustentada na boa investigação que se faz na Lusófona, é uma necessidade absoluta que terá de ser satisfeita ainda em 2010. Até final de Agosto, será instalado em Maputo o novo centro de investigação OLAE-Moçambique, que resulta da expansão natural do OLAE para um dos países mais prometedores da Lusofonia. Existem outros projectos que estão em preparação e brevemente serão anunciados.

O futuro conjuga-se, pois, com confiança que o caminho para a excelência será trilhado. Que Portugal, em particular, e o espaço da Lusofonia, em geral, possam beneficiar deste contributo!

domingo, fevereiro 14, 2010

Fevereiro 2010

A nossa economia

Aqui começa um novo blog.



   Um projecto sobre a análise macroeconómica da realidade que nos cerca. Os temas tratados serão sempre analisados do ponto de vista dos impactos das políticas económicas e macroeconómicas sobre a economia, compreendendo prioritariamente os impactos em Portugal e no espaço Lusófono. Sempre que possível será privilegiado o enquadramento teórico da realidade, bem como o debate entre vários pontos de vista. Todos os meses serão recomendadas duas referências para leitura, uma escolha actual de uma novidade do mercado editorial sobre economia e uma outra referência de um livro clássico que marcou a História do Pensamento Económico. Este será um espaço de reflexão que se pretende contribua para a melhoria da eficiência económica global.



   Para conquistar um caminho próprio.



   E chegar mais além.

José Paulo Oliveira