sábado, julho 03, 2010

Julho 2010

O Verão que ainda está para acontecer




O excesso de trabalho e a necessidade imperiosa de cumprir com todas as tarefas com as quais estive comprometido fizeram com que durante os meses de Maio e Junho tenha sido totalmente impossível apresentar escolhas de livros do mês, quer actuais quer clássicos, bem como a escrita do editorial e as devidas actualizações e reflexões sobre a vida económica.

Aos meus leitores habituais, as inevitáveis e sinceras desculpas. Passado esse período mais intenso e sobrecarregado, ainda que longe de qualquer ideia de férias, voltamos ao normal funcionamento do blogue e à intensa reflexão sobre o mundo que nos rodeia e às consequências económicas das opções humanas.

Nos últimos meses temos vivido constantemente sob o espectro da crise e os seus mais variados efeitos, no entanto de há algum tempo para cá temos verificado uma espécie de anestesia colectiva em relação a este assunto, como que acreditando que o pior já passou e que os próximos anos serão de retoma.

Ora, o que acontece é que chegámos ao fim do princípio, mas estamos ainda muito longe do princípio do fim desta crise. As actuações concertadas dos Bancos Centrais e as suas ingerências nos mercados financeiros e em especial no mercado cambial têm amenizado os efeitos de curto prazo da crise, no entanto será inevitável que estas intervenções terminem e aí, lamento informar, o choque será maior que aquele que teríamos se os Estados já se tivessem retirado. Pior, corremos o risco do efeito anestésico destas medidas passar e perante a queda das economias já não termos os remédios necessários à nossa disposição, ou então esses remédios já não fazem efeito. Lembram-se do Japão na década de 90?

Os meses que se seguem constituem uma verdadeira caixinha de surpresas porque é evidente que os problemas dos países europeus não estão resolvidos, que a dívida Grega está por um fio e que muito provavelmente vamos voltar a ouvir falar em risco de incumprimento, com a agravante que da próxima vez o risco será incomensuravelmente maior do que o foi no início da crise e a Europa voltará a abrandar com uma moeda sobrevalorizada seguramente em mais de quinze por cento face aos valores fundamentais das economias europeias e norte americana (irresponsabilidade cambial não ajuda em nada as exportações).

A única vantagem de Portugal é ter a Grécia como exemplo. Como os Gregos vão chegar com o nariz à parede antes de nós, quando chegar a nossa vez já sabemos como é que os nossos parceiros Europeus, em particular os Alemães, se vão comportar.

Aliás, o futuro da Europa é o que está aqui em causa. A Grécia é apenas o rastilho que pegará fogo à União Europeia. Infelizmente, a sensação que fica é a de os líderes Europeus estarem completamente adormecidos e os únicos que estão firmes, os Alemães, estão a fazer tudo o que podem para deixarem os Gregos pagarem sozinhos pelos seus erros. Talvez em Berlim alguém pense que, o triste fim dos chamados PIIGS (exceptuando a Itália que parece ter condições para escapar e eventualmente a Irlanda que está a trabalhar seriamente para se reequilibrar) possa servir para deixar a Espanha de joelhos. Os Espanhóis ganharam imenso peso e talvez Berlim sinta a oportunidade de colocar Madrid a um canto. Afinal Grécia e Portugal parecem ser parceiros descartáveis e a Europa passaria a ter outra ordem mais favorável a Berlim. Mas o problema deles é que o caso não vai acabar assim, a Hungria, e pelo menos mais dois países do leste da Europa, estão praticamente falidos e um cenário de incumprimento Grego transmitir-se-á rapidamente até às fronteiras germânicas. Nesse dia, o problema terá saído totalmente fora de controlo e a crise alastrará a toda a Europa com ainda muito mais força que no início do problema.

Todos já sabemos como isto acaba. Não é preciso ter vivido a Segunda Guerra Mundial (nem a Primeira) para saber que a Extrema-Direita e a Extrema-Esquerda vão esfregar as mãos de contentes, os moderados serão calados e os anos 30 do século passado podem repetir-se. Quem não aprende com a História…

José Paulo Oliveira