segunda-feira, dezembro 06, 2010

Dezembro de 2010

Resistir ao FMI?

O mês de Natal começa em Portugal com o espectro do FMI e da recessão que nos espera em 2011. Os meus cálculos levam-me a afirmar que, se o próximo ano nos trouxer um crescimento negativo do PIB em 1%, então o desemprego ultrapassará os 14% e teremos mais de 150 mil novos desempregados. Isto é o cenário que nos espera se nos resignarmos a nada fazer, aceitando a recessão como um facto consumado. Evidentemente, além do problema social que se agravará, teremos um acréscimo significativo de incumprimentos nos créditos e um aperto da restrição orçamental de muitos cidadãos Portugueses.


Por outro lado, o Governo Português continua a resistir aos empurrões para pedir auxílio ao FMI. Esta resistência custa-nos quase dois por cento de diferencial nos juros da dívida pública. Valerá a pena resistir?

Do meu ponto de vista, vale a pena pagar esse adicional para garantir a capacidade de continuarmos a decidir a política económica nacional. Não apenas por questões de soberania! No entanto, esse esforço adicional só valerá a pena se for utilizado para podermos aplicar políticas diferentes daquelas que o FMI nos forçaria a aplicar. Para fazer o mesmo que o FMI nos obrigaria a fazer, não vale a pena resistir pois estaremos a pagar dois por cento (não esquecer que se tratam de milhões, muitos milhões de Euros) a mais sem tirarmos benefício nenhum. Na minha opinião, justifica-se resistir ao FMI para aplicar uma política social especialmente activa, que garanta a coesão social nacional, apoiando os que mais necessitam que terão de ser discriminados positivamente, nesta fase. Espero que o Governo de Portugal mostre firme vontade de seguir este caminho. Senão, podem chamar o FMI e sempre nos poupam umas massas valentes.

Durante 2011, outra questão fundamental se apresentará às economias Europeias: O futuro do Euro.

A actual arquitectura do Euro parece ser insustentável e a heterogeneidade das economias constituintes da União Económica e Monetária é tal que estamos perante a possibilidade real da Alemanha ter de sair do Euro ou dos outros quase todos terem de sair da moeda única. O aviso que a Alemanha estava a preparar o Marco é um sinal que este pode ser o futuro.

No entanto, penso que a saída da Alemanha do Euro será contrária aos próprios interesses da Alemanha e assim, como sempre ouvimos dizer que “quem está mal é que se muda”, terão de ser os países mais fracos a renunciarem ao Euro, sob pena de se tornar irrespirável o ambiente económico que um Euro disparatadamente valorizado vai induzir nas outras economias. A surpresa, se há alguma surpresa nisto, é que depois da Grécia, da Irlanda, de Portugal (claro), da Espanha (pois…), virão alguns países mais próximos da Alemanha. Veremos a Itália, mas a Leste também há quem esteja a ficar com a roupa curta e acima de tudo, a França dá sinais de poder seguir o mesmo caminho. Não será preciso tanto, para a Zona Euro ter de ser reformulada. Não será viável aguentar a moeda se metade dos países da Zona Euro estiver nas mãos do FMI. Não restará mais ninguém para salvar os outros, excepto a Alemanha. Não é possível! O mapa da Zona Euro terá de ser redesenhado. A menos que a Alemanha mude de políticas e de intenções. Já sabemos que o BCE fará o que a Alemanha mandar, portanto…